O romance “Lucíola”, de José de
Alencar, encontra-se no conjunto de obras do romance urbano. Trata-se de um
romance narrado em primeira pessoa por meio do personagem Paulo, que conta a
sua história de amor com Lúcia ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, em meados
do século XIX, num ambiente marcado pelo luxo, hipocrisia social e luxúria.
A obra gira em torno de um conflito
amoroso vivido entre os personagens Paulo e Lúcia. Ambos se amam, mas vivem um
jogo de aproximação e afastamento. Este conflito se dá através do confronto
destes com a sociedade, uma vez que Lúcia era uma refinada prostituta. Uma das
críticas levantadas no livro é a questão das convenções sociais impostas pela
sociedade, que impede a realização de um amor que foge dos padrões sociais.
Traçando um perfil dos personagens,
podemos observar a complexidade destes. Lúcia, uma mulher contraditória,
coexiste nela uma personalidade ambígua, observada no contraste entre os nomes
Lúcia, uma cortesã depravada, luxuriosa, cujo nome remete a
Lúcifer, um anjo decaído, e, Maria da Glória, uma criatura angelical, que se
acha indigna de ser amada por Paulo, um jovem pernambucano que chega ao Rio de
Janeiro para tentar se estabilizar. Ele possui um comportamento paradoxal,
compreensivo e intransigente. Ora deseja Lúcia, ora respeita, vê nela uma
prostituta, mas também uma mulher angelical. Na obra, encontramos
características românticas como o subjetivismo, marcado pelo individualismo dos
personagens, que lutam pelo seu amor em oposição à sociedade.
Muitos dos comportamentos de Lúcia e
Paulo são determinados pelo sentimentalismo. Toda a temática está focada na
exaltação do amor como forma de purificação, que transforma uma prostituta em
uma mulher virtuosa. Durante a trajetória de Lúcia, Paulo vai rompendo aos
poucos a barreira que a impede de ser feliz e a relação entre os dois ganha um
patamar sublime. Lúcia não se acha digna de casar-se com Paulo, chegando ao
ponto de pedi-lo que se case com sua irmã Ana. Lúcia acaba por revelar ao seu
amado sua triste história. Lúcia sacrificou sua inocência para salvar sua
família. Paulo a admira mais ainda, pois ela conservou a pureza da alma acima
de tudo. Paulo passa a vê-la com outros olhos, enxergando nela a pureza dos
anjos.
A estética romântica coexiste com a
obra de forma desarmoniosa, tendo em vista que Lúcia é uma cortesã, o que foge
da idealização romântica de heroína. No entanto, o romance “Lucíola” ainda deve
ser considerado uma obra romântica porque a heroína Lúcia ainda é uma
personagem idealizada. Ao longo da
narrativa, notamos a sua transformação de mulher fatal e luxuriosa em uma
mulher angelical, doce, insegura e apaixonada, o que corresponde ao ideal
romântico da heroína.
Lúcia morre devido a um aborto e, no
seu leito de morte, Paulo lhe promete que cuidará de Ana até que ela se
case. Lúcia encontra na morte sua redenção e salvação, uma vez que
ela sofria uma autopunição, movida por um sentimento de culpa incessante, e por
não acreditar ser completamente digna de perdão, elevando, enfim, à alma em
detrimento dos pecados da carne.
BIBLIOGRAFIA:
ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo: Martin Claret, 2007.
Por Max Moreira